Espiei-te nas entrelinhas do
tempo. Trazias-me sabor a passado embrulhado em tons de quietude. A expectativa
atropelava a ansiedade, e vise versa. Estavam de mãos dadas, ao mesmo tempo que
se odiavam. Deitei tudo por terra, mandei as palavras ao ar, as emoções à merda.
Deixei uma fenda aberta para elas entrarem, e mais uma vez haviam-me traído. A
racionalidade nem sempre vence. Desta vez foi derrubada ao fim de alguns anos fixa.
Neste momento está em alerta e não pretende abandonar o posto. Ela é prudente e
cuida de mim, abraça-me na certeza da incerteza e dá-me a firmeza de que
preciso para construir muralhas na minha vida. Dizem que a construção de
muralhas impede a tristeza de entrar, mas também a alegria. Consigo lidar bem
melhor com a ausência da alegria do que com a assiduidade da tristeza. Talvez
seja só de mim. Talvez tenha uma sensibilidade lúgubre. Talvez. Mas é talvez
tudo isso que me constrói e que me difere de certos humanos. Ainda bem. Sou
apenas mais uma pessoa sem ostensão, não quero elevar-me para que a minha presença
seja notada, apenas que a minha falta seja sentida.
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